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Editorial

O Brasil na encruzilhada do futuro digital e verde

A IA oferece um potencial transformador para alavancar a sustentabilidade e o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, mas esse futuro não é garantido; precisa ser ativamente construído

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O Brasil na encruzilhada do futuro digital e verde
O Brasil tem o desafio de se adaptar quanto a oportunidade de protagonizar um novo ciclo de desenvolvimento

Por Andriei Gutierrez* e José Goldemberg*

A transformação digital é cada vez mais urgente. Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) não é um luxo, mas uma necessidade. Deixar de abraçar essa tecnologia significa aprofundar desigualdades e arriscar a relevância do País no contexto internacional. Contudo, essa ferramenta precisa ser desenvolvida e implementada sob a égide de boas práticas de sustentabilidade, considerando o seu consumo energético. Nesse complexo quebra-cabeça, o Brasil tem, diante de si, tanto o desafio de se adaptar quanto a oportunidade de protagonizar um novo ciclo de desenvolvimento — e um dos pontos centrais para essa virada é a infraestrutura digital. 

Atualmente, estima-se que o Brasil dependa entre 50% e 60% do processamento de seus dados em servidores (ou data centers) localizados no exterior. É preciso que o País reduza essa dependência excessiva, ao mesmo tempo que não se feche para serviços e soluções estrangeiras. A resposta está na expansão estratégica da capacidade de data centers em território nacional. Felizmente, esses centros têm se tornado cada vez mais sustentáveis, otimizando o consumo energético e utilizando fontes renováveis. E é aqui que reside uma oportunidade dourada para o Brasil: a nossa matriz elétrica predominantemente limpa nos confere uma vantagem comparativa única para nos posicionarmos como um polo global de “data centers verdes”, exportando serviços de processamento de dados e de IA com baixa pegada de carbono para o mundo.

Contudo, é fundamental agir com discernimento para que essa vantagem não seja desperdiçada. Além da reintrodução de fontes mais poluentes na matriz elétrica — com o uso constante de usinas térmicas para compensar a intermitência das fontes solar e eólica, principalmente na estiagem —, agrava esse cenário a aprovação, pelo Congresso Nacional, de legislações que prolongam a operação de térmicas a carvão mineral e autorizam novas unidades a combustíveis fósseis. Muitas dessas medidas foram inseridas sem ampla discussão técnica.

Além de uma infraestrutura de IA mais verde, a própria IA é uma aliada poderosa na busca por soluções para as questões ambientais. As suas aplicações são vastas e promissoras, desde a otimização do uso de recursos hídricos e energéticos na agricultura de precisão e na gestão de redes elétricas inteligentes até o monitoramento e o combate, em tempo real, ao desmatamento ilegal e às queimadas que assolam os nossos biomas. A tecnologia pode refinar modelos climáticos, prever desastres naturais com mais antecedência, otimizar a gestão de resíduos sólidos (estimulando a economia circular) e auxiliar na catalogação e na preservação da nossa rica biodiversidade. Ferramentas essas que, se bem-aplicadas, podem acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.

O Brasil encontra-se, portanto, em uma encruzilhada decisiva. A IA oferece um potencial transformador para alavancar a sustentabilidade e o desenvolvimento socioeconômico, mas esse futuro não é garantido; precisa ser ativamente construído. Nesse sentido, o papel do Estado é central, não apenas como regulador, mas como indutor de políticas públicas estruturantes de médio e longo prazos que preparem o País para as dinâmicas complexas do século 21. 

Mais do que ações isoladas ou respostas reativas, o que se impõe é a construção de um verdadeiro projeto de nação para a era digital — o qual deve ser, sobretudo, inclusivo, assegurando que os saltos tecnológicos e os benefícios da IA e da digitalização não acentuem desigualdades, mas, ao contrário, sirvam como ferramentas para reduzir disparidades e promover oportunidades para todos os brasileiros. Tal empreitada exige uma visão estratégica e uma governança articulada entre os diferentes níveis de governo, além de setor privado, academia e sociedade civil, materializada em investimentos robustos em infraestrutura digital e na capacitação humana e no fomento à pesquisa e ao desenvolvimento em IA com foco em soluções sustentáveis, bem como em um compromisso inabalável com as universalizações do acesso e do conhecimento digitais. 

Andriei Gutierrez, presidente do Conselho de Economia Digital e Inovação da FecomercioSP Andriei Gutierrez, presidente do Conselho de Economia Digital e Inovação da FecomercioSP
José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP
Andriei Gutierrez, presidente do Conselho de Economia Digital e Inovação da FecomercioSP
José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP

*Andriei Gutierrez e José Goldemberg são presidentes do Conselho de Economia Digital e Inovação e do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), respectivamente.

Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense em 29 de julho de 2025.

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