Sustentabilidade
14/05/2025Novas normas internacionais estimulam transparência e gestão de riscos climáticos nas empresas
Conselho de Sustentabilidade discute preparo de negócios brasileiros para novo padrão mundial de relatório climático sustentável

Desenvolvidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), as normas internacionais IFRS S1 e IFRS S2 representam um marco para a governança corporativa e os relatórios de sustentabilidade, trazendo implicações diretas para empresas de todos os portes e setores — sendo obrigatórias para as companhias de capital aberto. Essas diretrizes têm como objetivo estabelecer uma linguagem comum para que as organizações divulguem, de forma clara e padronizada, informações a respeito de oportunidades e riscos relacionados à sustentabilidade e ao clima.
Para apoiar as empresas nessa jornada, o Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) debateu as novas normas internacionais na reunião de maio. “Nosso time acredita firmemente que a agenda ESG é, antes de tudo, um instrumento de boa gestão, de visão estratégica e de adaptação a um mundo em profunda transformação. Muitas empresas brasileiras já entenderam isso e têm adotado práticas ambientais e sociais com seriedade, responsabilidade — e, sim, com retorno positivo para os negócios. As soluções para os desafios do clima, da energia, da desigualdade e da inovação tecnológica existem e passam pela ciência, pela governança pública, pelas decisões empresariais e, sobretudo, pela cooperação multilateral”, destacou o presidente do conselho, José Goldemberg, na abertura.
“A FecomercioSP seguirá a sua atuação para promover o diálogo, ouvindo especialistas, propondo caminhos e apoiando o setor produtivo na construção de uma economia mais resiliente, inclusiva e sustentável. Dessa forma, o debate de hoje envolve as novas normas internacionais IFRS S1 e IFRS S2, as quais incluem a divulgação de informações sobre iniciativas ligadas a práticas ESG e estabelecem estratégias para suas implementações”, complementou.
Nova norma, novo paradigma
As normas internacionais IFRS S1 e S2, recentemente incorporadas à regulação brasileira pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), marcam uma virada histórica na forma como as empresas devem reportar informações financeiras sobre sustentabilidade e clima. “O objetivo é integrar, de maneira concreta e verificável, os impactos climáticos e socioambientais às demonstrações financeiras, reforçando o compromisso com a transparência, a integridade e a governança corporativa”, disse o convidado especial Alexsandro Tavares, gerente sênior de Controladoria e Controles Internos na Lojas Renner S.A., e presidente da Comissão de Auditoria e Normas Contábeis da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
No encontro, o especialista abordou os principais desafios e aprendizados na adoção das normas IFRS S1 e S2, com base em uma ampla pesquisa com companhias abertas brasileiras, desenvolvida pela Abrasca. “As normas fazem parte de um arcabouço internacional. A IFRS S1 define diretrizes gerais para a divulgação de informações de sustentabilidade com impacto financeiro, enquanto a IFRS S2 foca especificamente nas oportunidades e nos riscos relacionados ao clima”, destacou Tavares.
Com a implementação dessas normas, as empresas precisarão desenvolver sistemas robustos para coleta, análise e verificação de dados socioambientais. Será necessário integrar, por exemplo, as informações climáticas à gestão de riscos, além de investir em capacitação e adaptar os relatórios às exigências legais de cada país. No Brasil, avalia-se que essa mudança deve estimular a competitividade e a credibilidade internacional das companhias, ao alinhar práticas locais com os padrões globais.
Mais do que uma exigência regulatória, as IFRS S1 e S2 oferecem um caminho para que as empresas fortaleçam a própria resiliência, a atratividade para investidores e o compromisso com a agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança). A padronização das informações promove mais transparência, facilita a comparação entre negócios e fortalece a tomada de decisões estratégicas com base em critérios sustentáveis. Veja, a seguir, os principais requisitos de cada norma.
- IFRS S1 | Define os requisitos gerais para a divulgação de informações financeiras a partir de quesitos em sustentabilidade, abrangendo temas como governança, estratégia, gerenciamento de riscos e desempenho.
- IFRS S2 | Aprofunda oportunidades e riscos especificamente ligados ao clima, exigindo que as empresas relatem como esses fatores podem afetar a capacidade de geração de caixa, acesso a capital e estratégias de longo prazo.
Diagnóstico e adoção: um processo em curso
Segundo o executivo, as novas normas surgem como resposta à demanda de investidores por informações mais precisas sobre as ameaças ambientais que podem afetar os resultados futuros das empresas. “Esses princípios eliminam o greenwashing e exigem que sustentabilidade se torne parte da estratégia de longo prazo, permeando decisões, produtos, fornecedores e cadeias de valor”, afirmou Tavares.
Embora o prazo de obrigatoriedade esteja previsto para a partir de janeiro do ano que vem, a pesquisa da Abrasca mostra que 71% das empresas ainda não concluíram o diagnóstico inicial para adaptação às normas. Esse diagnóstico é essencial para mapear as lacunas, estimar os investimentos e iniciar as mudanças estruturais necessárias — como a criação de comitês de sustentabilidade, adequação de sistemas internos e capacitação técnica de equipes.
“A CVM oferece, até dezembro de 2025, a opção de adoção voluntária das normas, com exigências flexibilizadas, justamente para incentivar o aprendizado e o amadurecimento do processo. Apenas duas empresas, a Renner e a Vale, anunciaram, até o momento, a adesão voluntária e já trabalham na publicação dos primeiros relatórios com base nas normas”, contou.
Integração entre sustentabilidade e finanças
Um dos pontos centrais das normas é a necessidade de cooperação entre as áreas de Sustentabilidade, Controladoria e Finanças — as quais têm perfis técnicos distintos. Os relatórios também exigirão uma auditoria razoável, ou seja, com o mesmo nível de rigor das demonstrações financeiras. Isso exige sistemas sólidos, dados confiáveis e capacidade analítica para mensurar riscos, oportunidades e impactos financeiros futuros.
“Não é um relatório qualquer, pois deve refletir como as ameaças climáticas podem afetar fluxo de caixa, valor presente e decisões estratégicas. É o que o investidor quer saber antes de alocar capital”, explicou o executivo.
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